Um dia de chuva em um bar de esquina

em sábado, 8 de abril de 2017


- Menino, é melhor você levar um guarda-chuva, você não ouviu a moça do tempo falando que pode chover a qualquer momento?
-Não se preocupe Judy, olhe só, não está vendo o sol? Volto logo, até!
Judy é minha governanta, na verdade é quase que minha segunda mãe, nunca fui tão mimado por ninguém. Ela vive tentando me proteger, e deixa tudo como uma linda pérola polida, seu único problema é confiar fielmente na previsão do tempo. Ah o dia está lindo!
Pensei em passar na casa do Paulo, mas antes vou dar uma volta pelo centro. Entro em uma loja de móveis. –Preciso trocar a mesinha de centro- penso, dou uma olhada em volta, escolho ok, pagamento efetuado. Três vezes no cartão, está ótimo, irão entregar amanhã de manhã, Judy receberá!
Antes de sair da loja ouço um som no telhado, mas acabo não dando muita importância, saio e o céu está simplesmente desabando sobre minha cabeça, no celular uma mensagem – Eu avisei-. Sim, Judy estava certa, agora isso já não importa, preciso encontrar um lugar para me proteger.
Logo na esquina um bar, era do Juca, meu irmão e eu vivíamos aqui na época da faculdade, agora já não sei quem é o dono. Entro e me sento junto ao balcão, um senhor de bigode me atende, peço somente uma água com gás. Já faz alguns anos que deixei de consumir álcool. Ao meu lado um rapaz, aparenta ter 30 anos, soluçando de tanto chorar agarrado ao copo já vazio.
-Pare com isso Leonardo, parece um besta! Você fez o que quis agora quem não quer é ela. – Diz o mesmo rapaz que me atendeu. Estas palavras ficam em minha cabeça, eu ouvi exatamente o mesmo, cerca de três anos atrás, neste mesmo balcão. Parece que este é o ciclo constante dos “pegadores”, e este bar seria o ponto de encontro de todas estas histórias.
Penso em dizer alguma coisa para aliviar a dor daquele rapaz, porém o que poderia eu dizer ele? Estou sozinho, longe da única mulher que já amei, e já nem me lembro de qual foi a última vez que provei o gosto de outros lábios. – É isso mesmo meu amigo, a tendência é só piorar- Penso no meu canto.

A chuva vai diminuindo, do mesmo jeito que chegou louca e violenta, vai se afastando como se nada tivesse acontecido, neste momento entra no bar uma jovem, muito bonita, usando capa de chuva e uma sombrinha roxa, com um sorriso de canto, se aproxima, e diz: -Eu te perdoo, meu amor. O rapaz que antes chorava agora abraça e beija sua amada. Pelo menos alguém com um final feliz por aqui. Pago minha conta e vou embora, Judy já deve estar preocupada. 

*Este post faz parte do Desafio de Escrita. Tema 05. Clique aqui para ver a lista completa.*

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